sexta-feira, 22 de maio de 2009

Histórias de cada um

Era mãe de três meninas, a mais nova já saindo da adolescência. Acreditava que agora viriam os netos e que a única relação que teria com crianças seria a de avó. Pensou cedo demais.

Logo que veio a terceira, desistiu de ter outros filhos -achou que esse era um número bom. Mas não. Teve mais uma, e em suas palavras: “como o Papai do Céu não podia te colocar na minha barriga, colocou em outra e deu um jeito de você chegar até mim”.

Quando o bebê veio pela primeira vez, tinha 40 dias de vida, e era uma situação provisória, só enquanto sua “mãe” trabalhava. Chegava de manhã, ia embora no final da tarde. Certa vez, a “mãe” teve um problema e a deixou de um dia pro outro. E teve sucessivos problemas até que passou a deixar a menina no domingo a noite pra buscar no sábado pela manhã. E assim foi por meses.

Até que um dia, como toda criança saudável, ela começou a falar. Pelo exemplo que tinha das três irmãs, aqueles dois adultos que cuidavam dela eram o pai e a mãe -e foi assim que começou a chamá-los. A “mãe” pareceu não se importar.

Certa vez a "mãe" apareceu dizendo que tinha arrumado uma vaga numa creche e ia levar o bebê para morar com ela. A família toda ficou desesperada, mas sem ter o que fazer, afinal, ela era a “mãe” e tinha esse direito. Então a situação se inverteu. Passava a semana com a “mãe” e vinha ver a mãe nos finais de semana.

Era muito pouco para todo o amor que tinham criado. O clima naquela casa não era mais o mesmo, faltava uma vida ali, alguém que já fazia parte. E podia acontecer de nunca mais a verem, afinal, não havia grau de parentesco nenhum. Podiam sumir no mundo e nunca mais dar notícias.

Mas não. Pouco tempo depois, aparece a “mãe” com o bebê no colo. Foi “devolver”, como alguém que pega uma boneca emprestada e se cansa de brincar. E devolveu vida praquela família que tanto a amava e que tanto a queria.

Quando resolveram se mudar para longe, a “mãe” simplesmente assinou um termo de guarda para a mãe. Nunca quis dar a adoção, por motivos odiáveis que não cabe aqui falar. Mas hoje ela já está grande e é a razão de viver de todos naquela casa. Inclusive da sobrinha, que chegou depois. Mas ela é assunto para outro post.

quinta-feira, 14 de maio de 2009

De volta

Já estou de volta a São Paulo. Vim com dor no coração, uma saudade antecipada, mas apesar de adorar Campo Grande, sinto como se já não fosse mais o meu lugar. Também não posso dizer que São Paulo seja minha casa, mas sei que um dia ainda vou encontrar meu canto -e para isso, não posso parar de procurar.

Em primeiro lugar, preciso de um plano, me disseram. "Faça tudo 'de propósito'. Cada escolha, cada fala, cada pensamento, cada ação." (E parece que eu tenho um novo amigo...) Gostaria que fosse tão simples como parece, embora eu saiba que ele entende do que está falando.

Estar aqui é uma escolha minha, e por mais sofrido que seja, e por mais que eu realmente esteja triste nesses primeiros dias depois de voltar, acredito que estou fazendo a coisa certa. E além de tudo, não estou sozinha. Tenho aqui (de perto e de longe) todo o carinho e apoio de que preciso. E mais...

terça-feira, 5 de maio de 2009

Distâncias

Podia ser que de um pulinho a gente chegasse a qualquer lugar e pudesse estar perto de quem se ama. Hoje estou me sentindo uma criança que não entende porque não dá para passar o fim de semana na casa da avó que mora a “apenas” centenas de quilômetros de casa.

Não é só pelo dilema de estar ainda em Campo Grande –querendo ficar por mais uns dias– quando precisava já estar de volta a São Paulo. É também, e mais, porque hoje eu precisava muito dar um abraço em alguém que está a oceanos daqui, com desejos de feliz aniversário e garantias de que tudo vai ficar bem.

Tem tanta gente que eu desejo ter por perto que nem dá para nomear. E para poder ficar perto de uns, fico longe de outros. Distâncias são mesmo impossíveis. Quero todo mundo ao meu redor, junto. E ao mesmo tempo, quero o mundo.

sábado, 2 de maio de 2009

Embora

Desde pequena sempre mudei muito de cidade. Uma média de três a quatro anos em cada uma delas, acredito eu. Fato é que acabei me adaptando a essas mudanças. Quando criança, era sempre sinônimo de sofrimento. Deixar os amiguinhos, as tias da escola para trás e ainda ter que me adaptar a toda uma nova situação depois. Ainda me lembro da sensação de chegar a cada nova cidade. Era aterrorizante e ao mesmo tempo cheia de expectativa. Não consigo dizer se era boa ou ruim, só que era muito forte.

Fato é que me acostumei, e depois de muito tempo, passei até a gostar -o que não quer dizer que eu não sofresse mesmo assim. A única solução que encontrei: não me apegar tanto aos lugares, e menos ainda às pessoas. Eu só não imaginava o que esse tipo de atitude me traria de problemas no futuro.

Tenho esse meu jeito um tanto distante, de quem nunca vai se fixar a ninguém ou a lugar algum,o que faz com que as pessoas se afastem de mim, ou nem tentem se aproximar. E por mais que eu tente mudar isso, não consigo. Provavelmente porque quando penso que vou ter sucesso, volto a sofrer. Sempre mais do mesmo. Uma vez um amigo disse que tinha a sensação de que "estou sempre indo embora” e apesar de ter dado risada quando ele falou, é a definição mais perfeita que já tive. [Até porque depois de amanhã vou embora mais uma vez...]

E tudo isso acaba sendo uma alternativa à pergunta do post anterior.